Adolfo Luxúria Canibal
Os escorpiões com sida
Entram minúsculos pelas frinchas das portas
E tornam-se gigantes no calor do quarto…
Adolfo Luxúria Canibal / Carlos Fortes
Os putos vêm só para dar um fix
Estendem-se pelo quarto a folhear comics
Esquecem gringas a marcar os livros
E morrem de volúpia num esgar feliz
Alguém me faz um bico
Não interessa se é noite ou dia
Os filmes em que vivem são de fantasia
Por entre trevas e mortos-vivos
É chinês o facho que os alumia
Alguém acende um Bic
Devaneiam-se incríveis planos
Num retorno extemporâneo aos verdes anos
Trincando velhas pizas ressequidas
Aos polícias e ladrões jogamos
Alguém se afunda a pique
Alguém me faz um bico
Alguém acende um Bic
Alguém se afunda a pique
Alguém se balança
E há mesmo alguém que dança
Ai, que eu quero vomitar
...Velocidade escaldante...
Adolfo Luxúria Canibal / Carlos Fortes
Se é dura a batalha
E me quebra a asa
E o vento segreda
Da morte um aviso...
Tenho um anjo
Lá em casa
Que me aguarda
Com um sorriso!...
Se o corpo se esgota
De tanta moinha
E repouso busca
Ao mortal quebranto...
Tenho um anjo
Pela tardinha
Que me embala
Com seu canto!...
Se no sonho eu tombo
E minha alma assombro
Com a visão da morte
A ceifar o trigo...
Tenho um anjo
No meu ombro
Que me ampara
Quando há perigo!...
Carlos Fortes
Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro
Olá Amor
Estranha flor
Tens o poder
Do meu sofrer
E o segredo
Do meu degredo
Doce Amor
Negra Flor
Doce Amor
Amarga flor
A ti pertenço
Só em ti eu penso
Por ti me afundo
Adeus ó mundo
Estranho Amor
Negra Flor
Doce Amor
Amarga flor
Queres-me animal
Para tratares mal
Como um capricho
Deitado ao lixo
Doce Amor
Negra Flor
Doce Amor
Amarga flor
Carícias garrotes
Abraços chicotes
Cálices de mel
Cheios de fel
Estranho Amor
Negra Flor
Adolfo Luxúria Canibal / José Pedro Moura, Miguel Pedro, Carlos Fortes
Amarrado a esta cama
Pela mula que me ama
O desejo ferve em mim
Sinto a ânsia do festim
Quando rude me obriga
Trauteando uma cantiga
A comer o que não quero
- Não quero!
A comida em mim vertida
É por ela então lambida
E sua língua a passear
Põe-me doido para amar
Amarrado a esta cama
Pela mula que me ama
Meu carrasco do pyrex
Meu guerreiro de látex
Sinto o corpo buliçoso
Vou morrer de tanto gozo
Adolfo Luxúria Canibal / António Rafael
Où sont les nuits formidables
Qui nous ont promis le ciel?
Où est donc cet amour
Qu’on croyait eternel?
Où est ta bouche
De fraise et de miel?
Dans mês rêves circuit-télé
Parmi la pub, les films et les concours
Je trouve tes lèvres qui murmurent
De quoi tu parles quando tu parles d’amour?
À cent vingt à l’heure contre un arbe
Au vertige des nuages qui courent
J´écoute les cris de ta voix de velours
De quoi tu parles quand tu parles d’amour?
De quoi tu parles quando tu parles d’amour?
Adolfo Luxúria Canibal / Carlos Fortes
Sinto a força de deus
No enforcado
Que balança na aragem
Do fim da tarde
Que balança na aragem
Do fim da tarde
Aves marinhas
Que o vento arrasta
Por sobre o mar
Sinto ser um adeus
Do seu cuidado
O incêndio selvagem
Que no céu arde
O incêndio selvagem
Que no céu arde
Mágoas antigas
Que o tempo agasta
Até matar
Aves marinhas
Que o vento arrasta
Por sobre o mar
Mágoas antigas
Que o tempo agasta
Até matar
Adolfo Luxúria Canibal
Rodeando a cidade, descendo as colinas, saindo dos bosques
Eles aproximam-se! …
É a invasão dos veados! Dos veados com fome!
Se és moça solteira e vives sozinha
Corre lesta, sorrateira, a fechar a porta da cozinha! …
É a invasão dos veados! Dos veados com fome!
Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro
Bbbrrruuuum
No teu coração
Quando for meu
Bbbrrruuuum
Uma explosão
Da terra ao céu
Vrrooom vrrooom
Quero ser o teu motor
Vrrooom vrrooom
A tua ignição
Vrrooom vrrooom
Acender o ardor
Vrrooom vrrooom
Da tua paixão
Adolfo Luxúria Canibal / Carlos Fortes, Miguel Pedro
Ainda pequeno fui aprendendo
Que a violência tem um crescendo
Começa por nada acaba com tudo
E o que era lógico fica absurdo.
E quem paga é o sangue civil!
Adolfo Luxúria Canibal / Carlos Fortes
A rasgar o azul frio da noite
Velozes carros vermelhos disparam poderosas explosões de luz;
Ao volante das selvagens viaturas
Percorro as rijas carnes da volúpia em contorções libidinosas:
Estala um nervoso riso loiro
Chicoteando perversos olhares de nicotina e sangue
E um grito rouco escapa-se
Por entre as unhas que sulcam e ferem e matam…
Ao ritmo do limpa-para-brisas
Uma ruiva atravessa a rua espartilhada em vinil negro –
Danada impudicícia esta
De tudo querer morder em delírio animalesco!
Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro, Carlos Fortes
Se gostas de chupar
De champanhe quente e caviar
Junta-te às nossas tertúlias de fim de tarde
José Pedro Moura, Carlos Fortes / Carlos Fortes, José Pedro Moura
Então os cães de crómio
Assaltam-me a madrugada
E tu enches-me de gasolina
E chegas-me um fósforo
Agarro-me ao cheiro a informação pela manhã
E a ti…
Fossilizo-me pelos biliões de anos
Que te persigo
E aqueço-me no teu frigorífico
Micro-ondas
Anuncio o amanhã das estrelas
O hoje perdeu a validade
Sou o sol, o teu irmão
E morro sempre por ti!
Adolfo Luxúria Canibal / Carlos Fortes
Dói-me a alma!
Na indecência da cidade
Fogaréus de mácula
Em cenários de fausto
Arrepiada nudez
De corpos contrafeitos
Dói-me a alma!
Na elipse do fim
Arcos-íris quebrados
Na demanda do vinho
Perdidos olhares
De insana comiseração
Dói-me a alma!
Carlos Fortes
Gravado em Dezembro de 1993 e Janeiro de 1994 por Joaquim Monte, auxiliado por Fred Stone e Ramiro Martins, e misturado em Janeiro e Fevereiro de 1994 por José Fortes, auxiliado por Joaquim Monte, no Edit Studio – Amadora. Engenharia de som de José Fortes. Produção de José Fortes e Mão Morta. Fotografias da contracapa de Isa Dreyer-Botelho. Capa de José Carlos Costa. Editado em Março de 1994. Edição original BMG-Ariola.
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