Sai José Pedro Moura
Entra Marta Abreu
O tributo a Rui Veloso
Sai Marta Abreu
Entra Joana Longobardi
A transição para o novo milénio traz também mudanças na formação da banda: José Pedro Moura faz o seu último concerto com os Mão Morta em Junho de 2000, em Braga, num espectáculo integrado nos festejos dos 2000 anos da cidade, porque, para espanto geral, quando os Mão Morta sobem ao palco do 8º festival internacional de Paredes de Coura, em Agosto, é Gonçalo Budda, do grupo bracarense Big Fat Mamma, que ocupa o seu lugar… José Pedro Moura é substituído por Marta Abreu, anteriormente no grupo feminino de Coimbra Voodoo Dolls. Marta Abreu participa desde logo nas sessões de gravação do disco que os Mão Morta aprontam, desde Abril, no estúdio da Escola de Jazz do Porto, e que entretanto passam a decorrer no AreaMaster, em Vigo (Espanha). A sua estreia ao vivo com a banda dá-se só em Novembro, na sua cidade natal, na Festa das Latas da Universidade de Coimbra, mas ficaria apenas mais um concerto com o grupo – na Recepção aos Caloiros da Universidade da Beira Interior, na Covilhã – porque pouco depois vaga o lugar para Joana Longobardi, que já anteriormente a substituíra nas Voodoo Dolls, e que se estreia com os Mão Morta no concerto de Ano Novo, em Braga.
Em 2000 teve também lugar a edição do disco 20 Anos Depois Ar de Rock, que assinala os 20 anos da edição do álbum Ar de Rock, de Rui Veloso, apontado como o início do pop/rock em Portugal enquanto fenómeno de massas, para o qual os Mão Morta contribuem com uma versão do tema Domingo Fui Às Antas, por especial insistência do próprio Rui Veloso.
Ainda em 2000, a revista mensal de técnicas de estúdio e de instrumentos ProMúsica dedica aos Mão Morta a capa da sua edição de Março e o semanário Blitz, que comemora a especificidade do ano editando semanalmente uma enciclopédia que analisa a música do século que termina – intitulada A Música no Século XX –, abre em Outubro um capítulo para a banda.
O 9.º álbum Primavera de Destroços
Os concertos em Madrid
O Prémio Blitz Carreira
Em Março de 2001 os Mão Morta editam o novo disco Primavera de Destroços, com a sua apresentação a ser feita no Teatro Gil Vicente, em Coimbra, que se encontra completamente esgotado. A banda aparece na primeira página do generalista Diário de Notícias e é capa do seu suplemento cultural DNMais, tal como do Sete, suplemento cultural do matutino Primeiro de Janeiro, e da revista VoxPop. Em Abril, o disco entra para o 27.º lugar do Top Nacional de Vendas e para o 7.º lugar do Top Made In Portugal (supostamente um registo de vendas de editoras independentes, a contabilizar apenas edições lusófonas, mas que rapidamente se torna no veículo de promoção para os editores da música rural mais parola de Portugal), onde se mantém algumas semanas. Também a cadeia de lojas FNAC dedica uma semana aos Mão Morta, com conferências sobre diversas facetas da banda, em que intervêm alguns dos mais conceituados críticos musicais, como João Lisboa ou Nuno Galopim, escritores e poetas, como José Luís Peixoto ou Paulo da Costa Domingos, editores de livros, como Luís Oliveira da Antígona, ou realizadores de cinema, como Nuno Tudela ou Tiago Guedes de Carvalho. Este último é o autor do videoclipe promocional do disco, sobre o tema Cão da Morte, que em Dezembro vence o Prémio Nacional de Vídeo na categoria “melhor realização”, para o qual é ainda nomeado nas categorias “melhor montagem” e “melhor fotografia”, e em 2002 o Prémio do Público da competição Videoclipes do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto.
A tournée que se segue à edição do disco proporciona aos Mão Morta novo recorde de concertos anuais, sendo cabeças de cartaz na totalidade dos mais importantes eventos estudantis, como a Semana do Enterro da Universidade de Aveiro, a Queima das Fitas da Universidade de Coimbra, a Semana Académica da Universidade de Lisboa, o Enterro da Gata da Universidade do Minho, em Braga, a Semana Académica da Universidade do Algarve, em Faro, e depois, em Outubro, a Festa das Latas da Universidade de Coimbra e a Recepção ao Caloiro da Universidade de Évora, integrando o alinhamento da maioria dos festivais portugueses, como o Bejalternativa, em Beja, o Festival do Tejo, no Cartaxo, o Carviçais Rock, em Torre de Moncorvo, o Ilha do Ermal, em Vieira do Minho, o Noites Ritual Rock, no Porto, ou o MusicFest, em Lisboa, e fazendo ainda duas actuações em Madrid (Espanha).
O disco é, mais uma vez, incluído nos balanços dos melhores do ano de várias publicações, como os diários Público e Diário de Notícias ou o semanário Expresso, sendo mesmo considerado o “melhor do ano” para a RUM – Rádio Universitária do Minho. No entanto, 2001 fica assinalado pela atribuição aos Mão Morta do mais importante galardão musical português, o Prémio de Música Blitz – Carreira, numa cerimónia realizada em Outubro no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, que contaria ainda com uma actuação da banda reforçada com o grupo de percussão de música popular portuguesa Tocá Rufar. Para receber o prémio, os Mão Morta apresentam-se com todos os seus actuais elementos e ainda com os históricos Joaquim Pinto, Carlos Fortes, José Pedro Moura e Marta Abreu – a única ausência é a de Zé dos Eclipses, que se encontra em Santiago do Chile –, tendo Adolfo Luxúria Canibal, no discurso de agradecimento, partilhado também o prémio com Vítor Silva, antigo manager do grupo, presente na assistência.
A edição especial de Primavera de Destroços com o 10.º álbum Ao Vivo na Aula Magna
A Carícias Malícias Tour
O Prémio Blitz Melhor Álbum Nacional para Primavera de Destroços
O Prémio Blitz Grupo Nacional
Os Mão Morta iniciam 2002 com a reedição de Primavera de Destroços, acrescido de um disco bónus com o concerto de apresentação do álbum em Lisboa, na Aula Magna, em Maio do ano anterior.
Mas o ano fica marcado, sobretudo, pela Carícias Malícias Tour e pela mudança radical que provocou no hábito de agenciamento de concertos em Portugal: inspirados nos espectáculos madrilenos de Maio anterior, dados em pequenos clubes e com o público muito próximo do palco, proporcionando uma intimidade difícil de conseguir nos grandes eventos em que normalmente tocam, os Mão Morta decidem, juntamente com A Chave do Som – a agência com quem trabalham desde 2001 –, fazer um levantamento dos bares, discotecas e pequenos espaços alternativos com condições mínimas para acolher concertos e, em função desse levantamento, organizar uma tournée susceptível de se aguentar financeiramente só com as receitas geradas pelas entradas de público. Foi a génese da Carícias Malícias Tour, que arrancou em Outubro levando os Mão Morta para uma sucessão de inesquecíveis e furiosas prestações por todo o país, com salas sucessivamente esgotadas e a gerar um movimento de entusiasmo como há muito se não via, e que serviria de modelo para outros grupos se lançarem em iniciativas semelhantes e de incentivo para muitos bares passarem a programar espectáculos ao vivo. E isto sem renunciar às tradicionais apresentações nos grandes e médios eventos, como em Julho no festival do Litoral Centro, em Leiria, ou em Agosto no Jales Rock, em Vila Pouca de Aguiar.
2002 é também um ano em que os Mão Morta ganham vários prémios: em Outubro, naquela que se revelaria a sua última edição, vencem dois Prémios de Música Blitz - 2001, na categoria “melhor álbum nacional”, com Primavera de Destroços, e na categoria “grupo nacional do ano”; em Dezembro é o jornal Raio X que organiza também uma cerimónia de entrega de prémios, a que chama Prémios Raio X – Os Melhores do Ano 2002, saindo os Mão Morta vencedores na categoria “melhor banda pop/rock/punk” depois de também terem sido nomeados nas categorias “banda nacional” e “melhor actuação”, com o concerto no bar Deslize em Braga que deu início à Carícias Malícias Tour.
Ainda em Outubro o semanário Blitz, a propósito da comemoração do seu 18.º aniversário, publica uma selecção dos melhores discos portugueses editados durante a existência do jornal, intitulada 18 Anos de Música Portuguesa, na qual inclui os álbuns O.D., Rainha do Rock & Crawl, Mão Morta, Müller no Hotel Hessischer Hof, Mutantes S.21 e Corações Felpudos.
A criação da editora Cobra
O 11.º álbum Carícias Malícias
Com a edição de Primavera de Destroços os Mão Morta dão por cumprido o contrato de dois discos assinado com a NorteSul e Adolfo Luxúria Canibal, Miguel Pedro e António Rafael decidem criar a sua própria editora discográfica. Embora o propósito não fosse editar Mão Morta, antes a intervenção activa no mercado editorial português pela disponibilização de nomes que normalmente não são assinados pelas grandes editoras, o primeiro artefacto da Cobra, editado em Maio de 2003, é Carícias Malícias, um registo ao vivo da tournée por pequenos espaços que os Mão Morta tinham montado, com uma profusa selecção de fotografias tiradas pelos fãs a testemunhar o entusiasmo que a rodeou. A vontade de partilha com os fãs faria ainda com que o vídeo de promoção ao disco fosse composto unicamente com imagens captadas por eles nos mais diversos concertos da tour.
Em 2003, os Mão Morta regressam aos grandes concertos, fazendo a ronda das festas estudantis, como o Enterro da Gata da Universidade do Minho, em Braga, a Semana Académica da Universidade do Algarve, em Faro, ou a Semana Académica da Universidade Nova de Lisboa, e dos festivais, como o Bejalternativa, em Beja, ou a Festa da Alegria, em Braga, mas desde Agosto dedicam-se essencialmente à gravação de um novo disco, no estúdio que construíram na Casa do Rolão, em Braga: o mote é o poema Uivo, de Allen Ginsberg.
O 12.º álbum Nus
A biografia Narradores da Decadência
As Sessões de Outono
Nus é editado pela Cobra em Abril de 2004, depois da sua edição ter sido retirada à editora Zona Música, por desentendimentos quanto ao cumprimento do acordado, e de ter sido recusado pelas editoras Música Alternativa, EMI e Universal com o argumento de que não seria suficientemente comercial. O disco, depois de uma distribuição inicial pelos quiosques com o semanário Blitz, rapidamente esgotada, é distribuído em Maio pelas lojas de discos e revela-se ironicamente como o mais bem sucedido registo do grupo, tendo em poucas semanas atingido o número de vendas equivalente a disco de ouro (certificação que lhe não é oficialmente atribuída porque a editora Cobra não faz parte da Associação Fonográfica Portuguesa – pelo mesmo motivo, as suas vendas não são contabilizadas no Top Oficial de Vendas).
O álbum é uma viagem pela memória de uma geração, a “sua geração lisérgica bracarense” como os Mão Morta a identificam, com as suas utopias de liberdade e revolução e a sua descida aos infernos da droga, da prisão e da morte, e começa com o tema Gumes, um épico de 22 minutos que funciona como distribuidor dos restantes temas. A sua apresentação é feita em Abril num esgotado Auditório do Palácio de Exposições, em Braga, com a presença dos convidados Marta Ren, voz dos Sloppy Joe, e Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero.
Em Abril é editado o livro Narradores da Decadência, a primeira biografia dos Mão Morta, onde o jornalista Vítor Junqueira aborda a carreira da banda. É lançado o terceiro tomo da série À Sombra de Deus coligido novamente por Miguel Pedro e editado pela autarquia, onde os Mão Morta incluem o tema Sobe, Querida, Desce.
Em Outubro iniciam uma nova ronda por pequenos espaços, à semelhança do que haviam feito com a Carícias Malícias Tour, a que desta vez chamam Sessões de Outono.
As Sessões de Inverno
A Xira Galega
Seguem-se as Sessões de Inverno, iniciadas em Janeiro de 2005, que levam os espectáculos de apresentação de Nus, e uma exposição fotográfica organizada e montada por fãs, a diversos teatros e auditórios através de Portugal, como o Teatro Gil Vicente, em Coimbra, o Fórum Lisboa, o Teatro de Vila Real, a Casa das Artes, nos Arcos de Valdevez, o Cine-Teatro Paraíso, em Tomar, o Cine-Teatro São João, em Palmela, ou o Castelo de Sines, e que encerram com um inolvidável concerto esgotado na Aula Magna, em Lisboa. Os dois concertos lisboetas são gravados e filmados para posterior edição em DVD, que nunca aconteceu.
Terminadas as Sessões de Inverno, os Mão Morta dedicam-se à preparação de um espectáculo baseado no livro Os Cantos de Maldoror, escrito por Isidore Ducasse sob o pseudónimo de O Conde de Lautréamont.
Não impede que em Abril gravem 4 temas para o programa de rádio 3 Pistas, de Henrique Amaro (dois dos quais editados em disco no mês seguinte, numa colectânea com os melhores temas apresentados), difundido pela emissora Antena 3, nem que em Julho encerrem o 1.º Festival da Serra da Estrela, ou que no final do ano organizem mais uma mini tournée por pequenos espaços, agora na Galiza, a que chamam Xira Galega, e que passa pela Corunha, Santiago de Compostela e Vigo.
As actividades paralelas
Enquanto os Mão Morta continuam a preparação do espectáculo baseado no livro Os Cantos de Maldoror, Adolfo Luxúria Canibal intensifica a sua envolvência nos Mécanosphère, que no início do ano editam Limb Shop, o seu terceiro álbum, e com Estilhaços, um espectáculo de spoken word criado com António Rafael dois anos antes e que apresentam por todo o país, levando-o mesmo a Budapeste, na Hungria, em Setembro, e que editam em disco, homónimo, em Dezembro; António Rafael, para além de Estilhaços, compõe para várias peças de teatro; Miguel Pedro funda novos grupos, como Jazz Iguanas, um duo de electrónica improvisada cujo disco homónimo é editado em Setembro, ou Mundo Cão, um quinteto rock clássico, com Vasco Vaz e ainda a colaboração nas letras de Adolfo Luxúria Canibal.
O Maldoror no Theatro Circo
O tributo a Mão Morta
Depois de uma incursão a Paris, onde em Março de 2007 actuam como cabeças de cartaz no festival Tarola Rock, os Mão Morta estreiam finalmente Maldoror em Maio de 2007. A estreia é em Braga, no novo Theatro Circo. O espectáculo, com encenação de António Durães, cenografia de Pedro Tudela, figurinos de Cláudia Ribeiro, imagens vídeo de Nuno Tudela e desenho de luz de Manuel Antunes, é um sucesso, com críticas entusiásticas.
Participam depois no Festival de Paredes de Coura, em Agosto, tendo sido a principal banda do dia, e, no final da actuação, Adolfo Luxúria Canibal anuncia o fim do grupo, após 23 anos de carreira, num "adeus ao rock'n roll", que se veio a revelar uma ironia do vocalista.
Em Outubro é editado um disco de homenagem a Mão Morta - Tributo a Mão Morta - E Se Depois..., através da editora independente Raging Planet, com a participação de alguns dos principais nomes da nova geração de músicos portugueses da área alternativa.
O 13.º álbum Maldoror
O filme-concerto com curtas de Maya Deren
O concerto nos Açores
No primeiro semestre de 2008 levam o espectáculo Maldoror em digressão por todo o país. Termina em Maio no Theatro Circo de Braga onde havia estreado um ano antes. É editado o disco duplo Maldoror.
Em Julho fazem um filme concerto integrado no 16º Curtas de Vila do Conde - Festival Internacional de Cinema, em que musicam, e tocam ao vivo acompanhando a projecção, os filmes A Study In Choreography For Camera, At Land, Meshes Of The Afternoon e Ritual In Transfigured Time da realizadora experimental norte-americana Maya Deren. A gravação desse concerto é editada em Julho de 2009, com o título Rituais Transfigurados, edição que para além do CD com as bandas sonoras inclui um DVD com as curtas- metragens sonorizadas.
A gravação do concerto de estreia do espectáculo Maldoror é lançado em DVD pela Cobra Discos, que também inclui nos extras um documentário sobre a digressão realizada.
Em Agosto de 2008 tocam pela primeira vez nos Açores, na cidade da Horta (Faial) e participam, numa parceria com José Mário Branco, para o movimento de solidariedade com a doença mental, compondo o tema Loucura, editado em Novembro desse ano. Nesse mesmo mês de Novembro Miguel Pedro recebe, na categoria “música”, o galardão regional bracarense A Nossa Terra, que já tinha sido atribuído a Adolfo Luxúria Canibal na sua primeira edição em 1997.
A digressão Ventos Animais
O 14.º álbum Rituais Transfigurados
Iniciam uma longa digressão por auditórios, denominada Ventos Animais, onde revisitam toda a sua discografia, nomeadamente temas há muito não tocados ao vivo, que se prolongaria até Agosto de 2009, com passagens em Março pelo Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e em Abril pelo Cinema São Jorge, em Lisboa, completamente esgotados, vindo a terminar em apoteose no festival Noites Ritual, no Porto.
Em Novembro de 2009 tornam-se o primeiro grupo português com uma aplicação própria para iPod Touch e iPhone, permitindo aos seus fãs fazerem a remistura de um tema expressamente composto para o efeito.
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